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Relação entre Perda Auditiva e Declínios Cognitivos

Por: Tatiane Geraldo – Fonoaudióloga (CRFa 2-13841)

Os benefícios do uso dos aparelhos auditivos para a melhora da audição já são conhecidos e comprovados por inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos. Para entendermos esses benefícios temos que entender antes o que acontece nas nossas vias auditivas quando não temos a estimulação auditiva adequada.

                       

Evidências sugerem que a perda auditiva (PA), mesmo em níveis leves, aumenta o risco a longo prazo de declínio cognitivo e demência incidente. A perda auditiva é um dos fatores de risco modificáveis para demência, com aproximadamente 4 milhões dos 50 milhões de casos de demência no mundo possivelmente atribuídos à PA não tratada (Taraewneh, et al, 2022)

Resultados recentes mostraram que a perda auditiva confere um risco independente de demência incidente (ou seja, novos casos de demência) em indivíduos cognitivamente intactos, mas com deficiência auditiva instalada. A, fração atribuível populacional (FPA) de perda auditiva para demência (isto é, a redução percentual da demência incidente em um determinado tempo se um fator de risco individual, como a perda auditiva, fosse completamente eliminado) foi encontrada em 23,0%, que é maior do que a FPA de qualquer outro fator de risco modificável individual, incluindo depressão (10,1%), isolamento social (5,9%), tabagismo (13,9%), hipertensão (5,1%) e diabetes (3,2%) (Chern, A., Golub, J., 2019).

 

               

Uma das hipóteses mais aceitas é que a privação auditiva periférica pode levar ao isolamento social, conforme foi mostrado no estudo de Mick, P., Kawachi, I., Lin, F.R., 2014, e esse isolamento ocasionado pela deficiência auditiva pode levar a quadros de demência, pela falta de input auditivo. Outras teorias sugerem mudanças na estrutura cerebral após estimulação auditiva periférica reduzida, ou uma causa comum para ambas as condições.

A Doença de Alzheimer é a segunda forma mais comum de demência na população geral após o comprometimento cognitivo leve, e a identificação dos fatores de riscos é primordial para desacelerar o aparecimento da doença.

O envelhecimento é a causa mais prevalente de perda auditiva neurossensorial. A presença de perda auditiva em idosos é descrita pelo termo “presbiacusia” que normalmente se apresenta como perda auditiva neurossensorial caracterizada por perda nas altas frequências.

A presbiacusia, o segundo problema de saúde mais comum da população idosa, pode se apresentar como um distúrbio auditivo multifatorial caracterizado não apenas pela deficiência auditiva geral, mas também pelo comprometimento do reconhecimento de fala, principalmente em ambientes ruidosos, zumbido e hiperacusia.  A capacidade de se comunicar com amigos e familiares depende, principalmente, da capacidade de ouvir e processar o que está sendo falado e os sons ambientais. Quando os indivíduos desenvolvem a perda auditiva, eles são prejudicados em sua capacidade de conversar; esses problemas muitas vezes têm um impacto significativo na vida social e podem favorecer o aparecimento de depressão, declínio cognitivo e demência. 

                                                   

Sendo assim, a deficiência auditiva está citada como um dos fatores de riscos para a doença de Alzheimer, e/ou declínios cognitivos.

A memória de trabalho também pode ser afetada pela perda de audição. Uma vez que ela é importante para a compreensão e entendimento do discurso, armazenamento temporário das palavras. Portanto, quando a entrada sensorial está comprometida, no caso a audição, o indivíduo faz um esforço maior para ter uma boa compreensão e ainda precisa de mais pistas auditivas, causando uma sobrecarga em outras áreas. Ou seja, se não temos os sons entrando corretamente nas nossas vias auditivas, perdemos a capacidade de armazenamento.

Para evitar o aparecimento dos quadros acima citados, o uso dos aparelhos auditivos (e outros dispositivos auditivos) têm sido recomendados em indivíduos com perda auditiva, mesmo que as perdas auditivas sejam leves, a reabilitação precoce é necessária para prevenir ou desacelerar o aparecimento de declínios cognitivos, depressão e alterações de memória.

A relevância da audição para a melhora da saúde de forma mais ampla é tão grande que a Organização Mundial de Saúde em 2021 lançou a campanha “Cuidados Auditivos para todos”, recomendando que toda a população faço um acompanhamento audiológico uma vez ao ano, a fim de evitar problemas maiores.

Ainda são necessários muitos estudos relacionando a perda auditiva a alterações de memória, declínios cognitivos, depressão e demências. Mas já podemos afirmar que o uso de aparelhos auditivos é extrema importância para a melhora da saúde auditiva e saúde geral.

 

1. Tarawneh, H. Y.  Jayakody, D. M.P., Sohrabi, H.R., Martins, R. N., Mulders, W. H.A.M., -  Understanding the Relationship Between Age-Related Hearing Loss and Alzheimer’s Disease: A Narrative Review -  Journal of Alzheimer's Disease Reports, vol. 6, no. 1, pp. 539-556, 2022

2. Chern, A., Golub, J.S.- Age-related hearing loss and dementia - Alzheimer Dis Assoc Disord. - Jul-Sep; 33(3): 285–290. 2019.

3. Mick, P., Kawachi I., Lin, F. R., -The association between hearing loss and social isolation in older adults - Otolaryngol Head Neck Surg - Mar;150(3):378-84, 2014.

 

Professora Tatiane Geraldo - (CRFa 2 - 13841)

- Graduada em Fonoaudiologia em 2003 pela Universidade de São de Paulo (USP/Bauru)

- Especialista em Audiologia Clínica e Educacional pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/USP - Bauru)

- Especialista em Audiologia pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia 

- Coordenadora de Produtos na Audtec Saúde 

- Experiência de 19 anos na área de aparelhos auditivos e Zumbido

- Experiência de 15 anos na capacitação de fonoaudiólogos para atuação com aparelhos auditivos.

 

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